Sexta-feira, 28 de novembro de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 27 de novembro de 2025
Rodovias que viram pistas de pouso para aviões, “cidades” erguidas em duas semanas e uma logística para trazer 800 mil soldados alemães, americanos e de outros países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para o front em caso de uma guerra com a Rússia. Esses são alguns dos principais pontos do “OPLAN DEU”, o plano secreto da Alemanha para responder a um eventual ataque de Moscou num futuro próximo.
O documento de 1,2 mil páginas foi traçado há cerca de dois anos e meio por membros do alto escalão do Exército Alemão, revela uma matéria do jornal americano The Wall Street Journal desta quarta-feira (26).
De acordo com a reportagem, oficiais do exército alemão acreditavam, a princípio, que a Rússia estaria pronta para atacar a Otan a partir de 2029.
No entanto, uma série de eventos recentes de sabotagem, espionagem e invasão do espaço aéreo europeu, atribuídos a Moscou, levantam a suspeita de que um ataque por parte do país de Vladimir Putin possa ocorrer antes mesmo desse prazo.
Um cessar-fogo com a Ucrânia, que vem sendo pressionada pelos Estados Unidos, também pode dar tempo e recursos para a Rússia preparar uma agressão a aliados da Otan, acrescentam analistas ouvidos pelo WSJ.
Caso ocorra uma guerra entre Rússia e as potenciais ocidentais, a Alemanha teria um papel primordial pela localização geográfica, já que, com os Alpes formando uma barreira natural, as tropas da Otan teriam de cruzar o país para chegar à Europa Oriental.
Além de detalhes logísticos envolvendo linhas férreas, rodovias, portos e caminhos pelos quais tropas e suprimentos seriam transportados, o plano também delineia como soldados e veículos seriam protegidos, alimentados e hospedados nesse deslocamento.
Ainda de acordo com o WSJ, o OPLAN DEU também serviria para dissuadir a Rússia de uma eventual intenção de atacar os territórios da Otan.
“O objetivo é prevenir a guerra deixando bem claro para nossos inimigos que, se eles nos atacarem, não serão bem-sucedidos”, disse um oficial de alto escalão e um dos autores do plano ao jornal.
Mudança
A reportagem destaca como um dos principais desafios do plano justamente a mentalidade que foi adotada pela Alemanha após a Guerra Fria e a reunificação do país, em 1990.
Um “otimismo pacífico” acabou fazendo com que Berlim deixasse de lado o investimento em infraestruturas de uso dual, que haviam sido pensadas para o caso de o Alemanha ficar no meio a um conflito global, como entre americanos e soviéticos.
Um dos exemplos de estrutura de uso dual foram as autobahns, cuja construção previa a sua conversão para uma pista de pouso de aeronaves de grande porte.
Para isso, os guarda-corpos podiam ser facilmente removidos, assim como a divisão central das faixas. Além disso, havia tanques subterrâneos de combustível e estruturas para a montagem instantânea de torres de controle aéreo.
No entanto, após os anos 1990, esses projetos foram deixados de lado – e muitas das estradas mais recentes não possuem essa função de uso dual.
Segundo o WSJ, o governo alemão acredita que 20% das rodovias e 25% das pontes precisam de reformas para permitir a passagem de veículos de grande porte. Para os portos do Mar do Norte e Báltico, estão sendo calculados investimentos de 15 bilhões de euros (R$ 93 bilhões), dos quais 3 bilhões somente para projetos que permitam o uso dual de infraestrutura.
Parcerias e limitações
O plano de guerra da Alemanha também cita a necessidade de que sejam facilitadas as parcerias com o setor privado caso a ameaça russa se concretize.
Empresas já vêm sendo acionadas para treinamentos, como foi o caso da Rheinmetall, especializada em logística, que assinou um contrato de 260 milhões de euros para dar suporte às tropas alemãs e da Otan, diz a reportagem.
Nos últimos meses, a Rheinmetall efetuou, em 14 dias, a construção completa de um acampamento para 500 soldados, com alojamento, cinco postos de combustíveis, um refeitório e vigilância por drones, uma espécie de “cidade construída do nada em 14 dias e desmontada em sete”, contou uma fonte da Rheimetall ao jornal americano.
A operação, no entanto, revelou também as limitações da infraestrutura alemã: não houve capacidade para acomodar todos os veículos e o terreno era irregular, obrigando a empresa a transportar soldados de um lado para o outro.
Mesmo assim, as forças armadas alemãs têm sido otimistas quanto à implementação do plano, ressalta o Wall Street Journal. Com informações da CartaCapital e g1