Sábado, 18 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 10 de março de 2022
Quando Anders Fogh Rasmussen, primeiro-ministro da Dinamarca entre 2001 e 2009, fala sobre felicidade e prosperidade, ele nos faz sonhar – nós, brasileiros. “Nosso pequeno país está construído na confiança, honestidade e franqueza”, conta, no artigo I Led One of the Happiest Countries in the World. Here’s What Other Democracies Could Learn From Our Model, publicado pela revista Time, em novembro de 2019.
A Dinamarca é a nação menos corrupta e a segunda mais feliz entre todas as outras. Com uma taxa altíssima de desenvolvimento humano, é reconhecida pela excelência de seus serviços públicos e exaltada por sua legislação trabalhista – justa tanto para patrões quanto para empregados. Lá, o aborto está legalizado e o casamento gay, garantido por lei.
A Dinamarca ocupa ainda outra liderança – a de país mais digital do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas, como mostra o relatório Digital Government in the Decade of Action for Sustainable Development. Realizado de dois em dois anos, o levantamento da ONU avalia o índice de desenvolvimento de governo digital, o EGDI, na sigla em inglês, dos 193 Estados-membros. Atualmente a Dinamarca lidera a lista. Os outros dois destaques são Coreia do Sul, conhecido pela integração de sistemas de 1.230 serviços digitais ligados a 45 instituições do governo, e Estônia, cujo sistema eletrônico de identidade atribui a cada cidadão um cartão com chip para obter acesso a serviços do governo e também privados – e até permite assinar digitalmente documentos.
Como em todas as outras esferas da vida sob as égides da democracia e da transparência, aqui, a confiança da sociedade no poder público é essencial. A revolução tecnológica do setor público não é nada se não contar com o apoio e a participação de quem deve se beneficiar dela, como mostra tão bem o caso dinamarquês. “O sucesso de nossos esforços de digitalização depende fortemente da confiança de nossos cidadãos em adotar as soluções propostas por nós”, diz Tanja Franck, diretora-geral da Agência de Digitalização do país escandinavo, em conversa com Época NEGÓCIOS. Nove em cada dez dinamarqueses entregam seus dados pessoais de olhos fechados para as autoridades. De acordo com o estudo eGovernment Benchmark, o grau geral de transparência do governo é 10% maior do que a média da União Europeia. Nos serviços de prestação de contas, a taxa é de 15%. No de processamento de informações pessoais, 23%. Uma tranquilidade.
A transformação digital do governo da Dinamarca começou em 2001, com a criação de uma força-tarefa para tornar o setor público mais eficaz. Assim nasceu a Agência de Digitalização, subordinada ao Ministério das Finanças. “A maneira como lidamos com a renovação digital do setor público é única”, define a diretora. Colecionadora de arte contemporânea, a economista Tanja, de 50 anos, está no serviço público desde 1998.
Além de programas de apoio ao ecossistema govtech, todas as esferas de poder (o governo central, as regiões e os municípios) trabalham juntas. “A cada quatro anos, desde 2001, essas três esferas concordam em uma estratégia compartilhada que inclui uma série de iniciativas com foco em prioridades como infraestrutura digital, reutilização de dados, segurança de dados, soluções de bem-estar digital e soluções de negócios digitais”, lê-se no relatório da ONU.
Há também uma forte conexão entre o setor público e o setor privado e a academia. Estão todos comprometidos com as mesmas estratégias, em torno de um único propósito – o povo dinamarquês. “As soluções para os cidadãos devem ser simples, mesmo que o processo para alcançar esse resultado seja complicado. Temos um foco muito forte na experiência do usuário – da criação de serviços que agreguem valor ao dia a dia das pessoas até a inclusão digital”, explica a diretora da Agência de Digitalização. “Temos de garantir que nossas soluções possam ser usadas por todos, independentemente de suas competências digitais.” A facilidade de acesso ao governo digital aumenta a confiança da sociedade nas instituições públicas.
O objetivo é derrubar processos administrativos burocráticos e eliminar a comunicação analógica entre autoridades, empresas privadas e cidadãos. Conquistas importantes foram registradas nesse campo. As soluções digitais estão na vida cotidiana dos dinamarqueses. Lançada em 2007, a NemID é a identidade digital usada por praticamente toda a população adulta do país. Garante acesso a serviços privados também – e não apenas aos públicos. De marcar uma consulta com o médico a agendar uma hora no cabelereiro, é possível usar apenas uma identificação. O NemID é usado por cerca de 5 milhões de dinamarqueses – o equivalente a 85% da população. Em breve, esse sistema será substituído pelo MitID, bem mais moderno, em conformidade com severas normas de cibersegurança.
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