Domingo, 19 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Caiçara | 10 de março de 2023
O Banco Central (BC) reconheceu que a crise da Americanas afetou a rentabilidade do sistema financeiro nacional. Segundo a autarquia, um “evento relacionado a empresa de grande porte” fez os bancos elevarem suas provisões e levou a uma deterioração nos preços de ativos no mercado de títulos privados.
Para analistas, isso reforça a percepção de que o BC pode começar a reduzir a Taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano, já em meados deste ano.
A referência à crise na Americanas — ainda que o nome da varejista não seja citado — consta da ata do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), responsável por avaliar a saúde do sistema financeiro.
O mercado de crédito privado ficou mais restrito, e a crise em várias empresas, principalmente a Americanas, é um dos fatores por trás disso. Em fevereiro o volume de debêntures (títulos de crédito privado) foi de apenas R$ 6,63 bilhões. É um tombo de 64% frente aos R$ 18,69 bilhões captados em janeiro.
A agência de notícias Bloomberg, por sua vez, apontou uma onda de resgates em fundos de crédito brasileiros na esteira da crise da Americanas.
Segundo estimativas do Itaú BBA, diz a Bloomberg, os investidores retiraram cerca de R$ 66 bilhões líquidos de fundos locais com pelo menos 15% de sua carteira investida em crédito privado entre 12 de janeiro — um dia após o anúncio das “inconsistências contábeis” na empresa — e 2 de março. O total de ativos sob gestão nesses fundos ultrapassa R$ 1 trilhão.
Cautela no crédito
Na ata do Comef, o BC ressalta que o aumento das provisões feitas nos balanços de instituições financeiras (IFs) no último trimestre de 2022 responde “por porção relevante do recuo da rentabilidade anual do SFN [sistema financeiro nacional]”.
A autoridade monetária faz referência ao fim de 2022 porque é quando foi observado essa alta nas provisões dos bancos credores das Americanas. O rombo bilionário da varejista, contudo, só veio a público em janeiro deste ano.
“Em decorrência desses eventos, a volatilidade, os spreads e a aversão ao risco aumentaram. Também foram observados efeitos em algumas linhas no mercado de crédito”, afirma a ata do Comef. O documento ressalta, no entanto, que as provisões feitas pelos bancos “já absorveram a maior parte da materialização do risco.”
O BC aponta ainda que “o apetite ao risco das IFs na concessão de crédito às famílias e às empresas de menor porte apresentou redução, porém permanece elevado.” Ou seja, os bancos ficaram mais cautelosos na hora de conceder empréstimos, o que pode afetar famílias e micro e pequenas empresas.
Ricardo Aragonés, sócio da Aeté Capital, avalia que a crise das Americanas se soma a problemas em outras grandes empresas, como a Oi, que voltou para a recuperação judicial, e a Marisa, que renegocia dívidas. Além disso, a Selic alta restringe a oferta de crédito, com impactos sobre o PIB e a inflação.
“O mercado de crédito já vinha sinalizando alguma restrição de volumes este ano, não só para Americanas, mas pela Selic muito elevada impactando a capacidade de as empresas rolarem a sua dívida. Há uma conjunção de fatores que estão levando à desaceleração da atividade e, consequentemente, da inflação”, afirma Aragonés.
Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco Alfa, explica que a ata do Comef é um relatório técnico, que busca riscos sistêmicos:
“Mas isso eles não encontraram, até porque não há. Não acho que altere a visão do BC sobre os juros, mas acredito que os cortes começam na reunião de junho.”
À espera da regra fiscal
O gestor macro da AZ Quest, André Kitahara, destaca que, além da restrição de oferta de crédito para as empresas, o aumento da inadimplência das pessoas físicas tende a pressionar a atividade econômica. Isso, avalia, pode abrir a janela para um corte antecipado de juros.
A queda nos juros futuros observada nos últimos dias é um reflexo dessas expectativas. Nessa semana, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 passou de 13,085% para 13,045%, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,405% para 12,235%.
“O que o mercado está precificando é a possibilidade um corte de juros mais para o meio do ano”, diz Kitahara.
Para o sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, tem pesado mais a perspectiva de uma nova regra fiscal crível e um possível consenso na escolha dos novos diretores do BC: “As sinalizações de uma maior parceria entre Fazenda e Banco Central e de política fiscal nos trilhos abririam espaço para uma queda natural dos juros”.
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