Terça-feira, 15 de outubro de 2024
Por Redação Rádio Caiçara | 29 de dezembro de 2022
Com o ano de 2022 terminando, é preciso lançar nossos olhares para o ano que alvorece. Os efeitos de tudo o que ocorreu no presente ano irão repercutir 2023 adentro, até porque o calendário é uma convenção que muito mais delimita os fatos no tempo do que os encerra em seus efeitos e interconexões. Assim, iremos conviver por algum tempo com os reflexos da guerra na Ucrânia, da recidiva da covid-19 na China, do aprofundamento da crise climática e da inflação que assola o mundo, para ficar em apenas quatro grandes temas que transversalmente continuarão a afetar a nossa vida. Com esse pano de fundo alarmante, domesticamente os desafios não são menos preocupantes, e vêm embalados pela necessidade impostergável de uma pacificação nacional, após a eclosão de uma das mais agudas divisões políticas ocorridas em nosso País. Diante desse quadro, é possível imaginar alguns cenários e tendências, dando margem, contudo, para o imponderável, que sempre à espreita pode mudar totalmente o panorama projetado.
A economia é o setor que tem a maioria dos holofotes e expectativas sobre si, já que dela derivam o sucesso ou o fracasso de outros projetos. Sem uma economia saudável e dinâmica, comprometem-se as melhores intenções. Assim, é importante considerar o que deve advir nos assuntos mais estratégicos para que haja a possibilidade de o Brasil avançar nos próximos anos, temas esses conectados com os destinos da economia nacional. De pronto, evidencia-se, com a vitória da esquerda nas últimas eleições presidenciais, a possibilidade de avanços em algumas áreas e riscos em outras, o que é natural após um período de um governo de cunho mais liberal, economicamente falando. Considerando a nova visão ideológica que assumirá o poder, deverá haver maior voluntarismo fiscal ou, em outras palavras, o Estado ficará maior em seu protagonismo e em suas ambições. A conjugação dessa tendência de matriz keynesiana com a “bomba fiscal” prevista para 2023, talvez seja a questão mais sensível a ser equalizada. Do ponto de vista das mudanças, a reforma administrativa não deve avançar como muitos desejam, o que limita o escopo para a redução dos gastos com a máquina pública. O maior protagonismo do Estado terá o desafio de conciliar progressos sociais com responsabilidade fiscal, algo considerado muito difícil pela maioria dos economistas.
Por outro lado, algumas questões ligadas ao meio ambiente e às relações internacionais, aqui em contraste com o atual governo, deverão ter um efeito positivo sobre a economia como um todo. Nesse sentido, o Brasil evoluirá na questão ambiental e no entendimento sistêmico que esse tema tem hoje no mundo. Existe um claro consenso acerca da emergência da agenda climática e seus reflexos sobre a economia planetária. Nosso País poderá obter ganhos colaterais expressivos nas várias cadeias produtivas que se interconectam com o mundo sob a perspectiva ESG. Na política externa deverá haver um intercâmbio mais aberto e plural com os outros países, sugerindo a abertura de novos mercados, com oportunidades para o aumento de nossa inserção internacional. A economia também deverá ser favorecida como um todo a partir de possíveis e impostergáveis investimentos nas imensas lacunas sociais existentes e no enfrentamento da pobreza. A educação será outra área onde o Brasil regrediu e na qual será possível esperar melhorias, muito embora seus reflexos possam ser sentidos somente a médio e longo prazos.
Em resumo, mesmo com um movimento de cautela do mercado em relação ao novo governo, a sinalização para o IPCA, câmbio, Selic e IGP-M apresentam variações que sugerem estabilidade nos fundamentos macroeconômicos, bastante longe das previsões mais alarmistas. Essa aparente normalidade e certa acomodação nos indicadores econômicos para 2023, sinalizam que existe confiança, não apenas na atual estrutura institucional de governança econômica, cuja independência do Bacen talvez seja o símbolo mais eloquente, mas também que o haverá pouca margem orçamentária para maior voluntarismo fiscal.
No Ar: Show da Tarde